Ruth de Aquino |
Motivo de satisfação para este Blog é ver que não está sozinho
quando certos assuntos são focalizados. Muitas vezes esse apoio é notado pela
quantidade de comentários numa postagens. Já em outras ocasiões, o autor da
postagem tem alento quando observa que formadores de opinião de grande porte
têm o mesmo pensamento em relação ao assunto em pauta. Na edição desta semana
da revista 'Época', com este título, a comentarista política Ruth
de Aquino aborda o mesmo assunto da postagem anterior, que fazemos
questão de transcrevê-la, pois trata-se de algo que tem que ser levado muito a
sério e que não caia no esquecimento, principalmente quando certos políticos voltarem
às ruas pedindo votos ao eleitores de memória fraca. Aí está o oportuno artigo
de Ruth de Aquino:
Somos vítimas de bullying político, moral e cívico. E nada
fazemos. O país parece anestesiado pela overdose real de William e Kate naquela
ilha ao norte do Equador. Ao sul, em nossa república tropicalista, assistimos
passivamente a uma das cerimônias mais vergonhosas do Senado. Renan Calheiros
acaba de entrar para a Comissão de Ética. Roberto Requião arranca gravador de
repórter para apagar sua própria entrevista. Tudo com o beneplácito do
padrinho-mor José Sarney.
Tapa na cara, bofetada na nação, cinismo institucional. Assim
cientistas políticos e especialistas em ética classificaram as últimas ações do
Senado. Roberto Romano, da Unicamp, declarou: “Se o Senado fechar amanhã,
ninguém vai sentir falta, salvo os lobistas e os políticos que querem atingir o
Tesouro Nacional por meio da troca de favores”. Claudio Abramo, diretor da ONG
Transparência Brasil, foi além: “O Senado não precisa existir, não tem função.
Não há nada que ele faça que a Câmara não possa fazer. Pode desaparecer sem
prejuízo e seria até mais barato”.
Essas reações podem parecer destemperadas numa democracia que
atribui seu equilíbrio à existência de duas Casas: a Câmara e o Senado. Mas
respeito e credibilidade não são automáticos. Oito senadores indicados para a
Comissão de Ética respondem a inquéritos ou processos no Supremo Tribunal
Federal. A missão desse grupo “seleto” é vigiar e garantir o decoro dos 81
senadores. No novo conselho, muitos são amigos íntimos, alguns conterrâneos, do
maranhense Sarney. O próprio Sarney esteve envolvido em 11 processos no ano
passado – mas foi entronizado como “homem não comum” pelo ex-presidente Lula.
O presidente da Comissão de Ética, João Alberto, do PMDB,
governou o Maranhão em 1990. Nesse ano, uma lei estadual doou um prédio
histórico à família Sarney. Quem é João Alberto para ser o guardião do decoro
do Senado? Quais são suas credenciais para o país acreditar em seu slogan
“Vamos cortar na nossa própria carne”? Nas três vezes em que ocupou o mesmo
cargo, João Alberto engavetou todos os processos abertos na Comissão de Ética.
No Brasil de hoje, “formação de quadrilha” deixou de ser acusação.
Mais escandaloso é o resgate do líder do PMDB, o alagoano
Renan Calheiros. O conselho aprovou em 2007 sua cassação, rejeitada pelo
plenário. Calheiros enfrentou denúncias de quebra de decoro, corrupção, desvio
de dinheiro público, sonegação de bens, uso de laranjas. Renunciou à
presidência do Senado e foi absolvido pelos pares.
Oito senadores indicados para a Comissão de Ética estão
enrolados na Justiça. É um tapa na cara da nação.
A denúncia mais ruidosa contra Calheiros foi a de usar o
lobista de uma construtora para pagar uma pensão mensal a Mônica Veloso, com
quem teve uma filha fora do casamento. Ele alegou que alimentava a menina com a
venda de bois nas suas fazendas. As notas fiscais estavam irregulares.
Mônica teve seus 15 minutos de fama, posou nua e hoje
apresenta um programa de carros, Vrum, na televisão mineira.
Ela deixou imortalizada em seu livro uma descrição humana do
amante. Segundo Mônica, Renan fingia que ia se separar. “No início do namoro,
ele estava meio gordinho, mas fez dieta.” O casalzinho ia a festas, e Mônica
era tratada “com deferência” no Senado. Para Renan, ela era “uma rosa única
entre milhões de rosas”. O então presidente do Senado cantarolava “Eu sei que
vou te amar” de noite ao telefone, e queria pular Carnaval de rua com ela na
Bahia. Mônica chamava Renan de “docinho”, “de tão meigo que ele era”, mas ele
entrou em pânico quando ela disse estar grávida.
Tudo o que Calheiros possa ter de “docinho”, seu colega de
Senado Roberto Requião tem de truculento. Arrancou na segunda-feira um gravador
das mãos de um repórter. Irritou-se com uma pergunta procedente: ele abriria
mão da aposentadoria de R$ 24.117 que recebe como ex-governador do Paraná?
Requião só devolveu o gravador após apagar a entrevista. Sarney o defendeu:
“Requião é um cavalheiro”. Na tribuna, o senador disse ser vítima do “bullying
de uma imprensa às vezes provocadora e muitas vezes irresponsável”.
Bullying é o que os senhores, senadores, resolveram praticar
contra quem paga seus subsídios.
Concordo em grau, gênero e número....Não é diferente aqui na Europa.... Basta ver a situação de Portugal com o Primeiro Ministro a mentir descaradamente para a nação....
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