Lendo matéria publicada pela revista
Veja desta semana, consegui ver condensados, em uma única matéria
jornalística, vários pontos nevrálgicos do atual cenário político, todos
de conhecimento público, mas angariados em veículos e oportunidades
diferentes.
Na convenção do PT realizada em 2007, o
partido fechou questão em relação à liberalização da prática do aborto,
cuja descriminalização o partido já discutia internamente, desde sua
fundação, há 30 anos. Nessa oportunidade, Dilma Rousseff, acompanhando a
decisão do partido, declarou-se favorável à descriminalização do
aborto, e reafirmou essa sua posição em abril de 2009 e em maio e agosto
de 2010, em documentos e entrevistas a diversos veículos de
comunicação.
Após pesquisas realizadas pelos
marqueteiros de sua campanha, mostrando que 68% da população brasileira
são contrários a qualquer mudança na lei em vigor, que só permite o
aborto em casos específicos, de estupro ou por risco de vida da
gestante, Dilma passou a declarar ser "pessoalmente contra o aborto",
visto que não há como negar, além de suas declarações anteriores, também
a posição de seu partido.
A variação de posições de Dilma diante
de diversos assuntos é bastante dúbia, visto que nunca disputou sequer
uma eleição, e, consequentemente, nunca exerceu um cargo executivo onde
sua competência e atitudes ideológicas pudessem ser medidas. Disputa
agora esta eleição, por escolha exclusiva do presidente Lula, que, com
isso, parece querer mostrar a todos sua capacidade de eleger até um
poste, desde que por ele indicado.
Suas declarações pessoais em relação a
assuntos importantes como invasões de terras, meio ambiente, liberdade
de imprensa, economia, privatizações e corrupção envolvendo seus
assessores são variáveis conforme a ocasião.
Apóia os sem-terra, mas, em exposições
de gado, ou outro ambiente onde esteja diante de produtores rurais, diz
que respeitará a propriedade privada, quando se sabe que o PT pretende a
limitação do tamanho de áreas, independentemente de serem produtivas ou
não. Em abril de 2010, disse que, por ser do governo, não considerava
"cabível" usar um boné do MST, mas, em junho, na convenção do PT em
Sergipe, discursou usando o boné.
Declarou-se contrária a contribuições
financeiras de países em desenvolvimento para a constituição de um fundo
de preservação ambiental, mas, quando soube que Lula se dispunha a
contribuir, no dia seguinte já desdenhava da proposta de Marina Silva,
que propunha a doação pelo Brasil de US$ 1 bilhão, dizendo que esse
valor "não faz nem cosquinha", insinuando que o Brasil deveria
contribuir com quantia muito maior.
Diante do escândalo provocado por sua
assessora e sucessora na Casa Civil, Erenice Guerra, declarou, no dia 11
de setembro, com todas letras, "ela tem minha inteira confiança até
hoje" e, no dia seguinte, já disse "não posso ser julgada com base no
que aconteceu com o filho de uma ex-assessora", esquecendo-se de
comentar que, à essa altura, o escândalo já se estendia ao ex-marido da
assessora e a outras pessoas e empresas.
No dia 5 de julho, Dilma entregou à
Justiça Eleitoral um programa de governo que propunha o controle da
imprensa através de conselhos e observatórios comandados pelo governo,
e, no dia 21 de julho, disse "Sou rigorosamente contrária ao controle do
conteúdo. O único controle que existe é o controle remoto".
Por todos esses aspectos, me assusta a
possibilidade de entregar o comando de um país a quem não possui nenhuma
experiência administrativa, além de possuir um passado e um presente
ideológico muito diferente do que é tradicionalmente aceito pela
população brasileira.
Diante de tanta inconstância, penso
ser realmente muita irresponsabilidade de um eleitor patriota fazer
opção de voto por Dilma Rousseff, se nem ela mesma sabe o que pensa
sobre tais assuntos.
Autor: João Bosco Leal
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não saia do Blog sem deixar seu comentário