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28 de agosto de 2013

Quer Dilma queira ou não, fuga do senador boliviano está mal explicada

Existe muita coisa que ainda precisa ser esclarecida nesse episódio da fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina que vai além da reação raivosa da presidente Dilma à declaração do diplomata Eduardo Saboia, comparando a situação do senador fugitivo à de um de alguém que esteve preso no DOI-Codi no tempo do regime militar ─ "Eu estive no DOI-Codi, eu sei o que é o DOI-Codi. E asseguro a vocês: é tão distante o DOI-Codi da embaixada brasileira em La Paz como é distante o céu do inferno" ─, a começar pelo 'castigo' imposto ao então ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, que é o 'espinhoso' cargo de embaixador brasileiro na ONU, exatamente no lugar do seu substituto, Luiz Alberto Figueiredo. Quem não era da época talvez não saiba que o Codi (Centro de Operações de Defesa Interna) era o local onde se praticavam as maiores repressões aos adversários dos militares;

É difícil de acreditar que um grande número de autoridades do Governo não tenham tomado conhecimento prévio da ação que seria executada para trazer o senador oposicionista ao governo do presidente Evo Morales para o Brasil. Quem quiser que acredite que o Ministério da Defesa não tomou conhecimento de que fuzileiros navais acompanharam e deram segurança ao comboio de dois carros que viajaram 22 horas de La Paz até a cidade brasileira de Corumbá, na fronteira com a Bolívia, apenas pensando que estavam dando segurança ao diplomata Eduardo Saboia. Ora, se tudo foi feito de forma clandestina, por qual razão Antonio Patriota, que deveria mesmo ser exonerado por tal falha criando uma crise diplomática entre o Brasil e o país vizinho, foi mandado para um posto de alta relevância diplomática? Essa história está muito mal contada. Acrescente-se ainda haver o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ligado para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o envio de um médico da rede pública para examinar Molina em Corumbá. E mais. A 'comitiva' viajou para Brasileira escoltada pela Polícia Federal;

O diplomata Eduardo Saboia afirmou que sua ação foi de caráter humanitário, a disse de modo bastante enfático: "Eu defendi a vida. O governo não se empenhou para tirá-lo de lá", numa referência ao prazo de mais de 15 meses sem que, por razões ideológicas, fosse exigido de Evo Morales o salvo-conduto que nesses eventos é concedido em pouco tempo, para depois solicitar a extradição do mesmo para responder o que tenha à Justiça de seu país. Aí fica difícil de se atender, porque o Brasil está sem moral depois de o então presidente Lula não ter permitido a extradição do italiano Cesare Battisti, condenado à prisão pela prática de nada menos que quatro assassinato em seu país;

Aguarda-se nos meios diplomáticos e políticos a divulgação pelo diplomata Eduardo Saboia de e-mails e documentos trocados com autoridades brasileiras e bolivianas buscando uma solução para o caso. O embaixador da Bolívia no Brasil, Jerjes Justiniano, já cobrou explicações do Governo brasileiro sobre a operação de fugo do senador Molina. O certo é que estão querendo colocar tudo na conta de Saboia, mas o clima não ficaráá muito bom nos meios diplomáticos se isso acontecer, como ficou demonstrado por dois embaixadores do Itamaraty deixaram a comissão de sindicância instalada pelo governo para apurar a entrada no Brasil do senador boliviano Roger Pinto Molina. Na primeira reunião, ocorrida hoje, Glivânia Maria de Oliveira e Clemente de Lima Baena Soares, que se declararam impedidos de participar dos trabalhos do grupo. Virão mais emoções por aí, certamente.

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