-

6 de dezembro de 2018

Alta Comissária da ONU não quer militares contra o crime

A Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, critica a estratégia do uso de militares para combater a delinquência, como sugere o futuro presidente Jair Bolsonaro, além de alertar para os riscos de uma flexibilidade nas leis de acesso a armas. Seus comentários foram feitos em resposta a perguntas da reportagem do Estado sobre sua avaliação das propostas do novo governo brasileiro e seus posicionamentos sobre as forças armadas. A Alta Comissária, ex-presidente e ex-ministra da Defesa do Chile, apontou que vai monitorar o que ocorrer no Brasil em termos de direitos humanos, lembrando que esse é um trabalho que seu escritório faz sobre todos os países. Está já há meses no radar da ONU a presença extensiva de militares e de operações como a do Rio de Janeiro, que já foram oficialmente criticadas por relatores das Nações Unidas durante o governo de Michel Temer. Mas Bachelet fez questão de voltar a desaprovar a ideia do uso de militares para lidar com a violência. "Parece que, diante de situações de violência e insegurança em muitas partes, acredita-se que a solução é ter uma solução forte, como fazer com que mais militares lidem com a delinquência. Mas não concordo. Eu não acho que isso seja o que devemos fazer", disse. Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro deixou claro que quer rever as leis de acesso às armas, hoje limitada em muitos casos diante da exigência de que alguém comprove a efetiva necessidade. "A orientação nossa é que a efetiva necessidade exigida no Estatuto está comprovada pelo estado de violência em que a gente vive no Brasil. Nós estamos em guerra", afirmou Bolsonaro;
Depois de ser indicado para ocupar o cargo de ministro da Justiça, Sérgio Moro também falou sobre o caso, demonstrando que poderá dar maior flexibilização ao porte de armas. "As regras atuais são muito restritivas. Existe a proposta de flexibilização do porte de armas. Será discutida a forma como ela será realizada", disse o novo titular do Ministério da Justiça. Bachelet, que foi torturada durante o regime militar chileno e teve sua família também como vítima, respondeu ao ser questionado sobre o fato de Bolsonaro insistir em negar a existência da ditadura no Brasil. "Acredito que, na América Latina, tivemos um tempo em que tivemos muitas ditaduras", disse. "E no Brasil houve uma ditadura. E tivemos vítimas, tortura e tivemos comissões para olhar todo isso. No Chile, também tivemos uma ditadura. Pinochet não foi eleito pelo povo. Foi um golpe de estado. E muita gente desapareceu, mortas e torturadas", insistiu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não saia do Blog sem deixar seu comentário