Já
dizia o velho ditado: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.
Aplicando essa premissa, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou nesta
terça-feira que o tipo de espionagem praticada pelo Brasil e aquela que,
segundo denúncias, é feita pelos Estados Unidos, são “completamente
diferentes”. O Brasil
monitorou as atividades de diplomatas da Rússia, do Irã e do Iraque em 2003 e
2004, segundo notícia dada pela "Folha de S. Paulo" nesta segunda-feira,
informando que foram dez operações. Diplomatas russos envolvidos com
negociações de equipamentos militares foram fotografados e seguidos em suas
viagens. A operação batizada de Miúcha monitorou três diplomatas russos,
incluindo o ex-cônsul-geral no Rio Anatoly Kashuba. Representantes da
Rosoboronexport, a agência russa de exportação de armas, também foram alvo. A
Agência Brasileira de Inteligência (Abin) desconfiava de espionagem dos russos
no Brasil;
Também
foram espionados diplomatas
iranianos. A operação Xá monitorou a rotina e os contatos do embaixador do Irã
em Cuba, Seyed Davood Mohseni Salehi Monfared, em visita ao Brasil em abril de
2004. A embaixada do Iraque também foi monitorada, na época em que o país foi
invadido pelos EUA. Segundo a reportagem, o governo brasileiro constatou que
muitos diplomatas buscavam refúgio no Brasil e por isso houve necessidade de
segui-los;
Como se recorda, nos
últimos meses denúncias publicadas na
imprensa brasileira e internacional revelaram que a agência de inteligência
norte-americana, a NSA, espionou dados e comunicações de governos de vários
países, entre eles o Brasil. As denúncia levaram a presidente Dilma Rousseff a
suspender viagem oficial que faria a Washington e a propor
na ONU, junto com a Alemanha, um conjunto de regras de privacidade na internet. Apesar de se encontrar com o
presidente Barack Obama numa reunião de governantes e ter uma conversa
particular com o mandatário norteamericano, a presidente Dilma deu uma de
valente, bateu pé e não quis conversa com ele;
Para
o ministro da Justiça, a ação praticada pelo Brasil, confirmada pelo Gabinete
de Segurança Institucional (GSI), foi absolutamente legal. Segundo ele, não
houve interceptação não autorizada pelo Judiciário. Cardozo disse ainda que o
monitoramento do Brasil se classifica como uma ação de contraespionagem,
procedimento que, segundo ele, todos os países fazem e têm de fazer. “O que li foi que houve
contraespionagem. Isso é absolutamente legal nas regras. Quando você acha que
há espiões atuando no Brasil, você deixa de espionar? Não. Você faz a
contraespionagem, para saber se eles estão espionando ou não. Não vejo nenhum
abalo. Todos os países fazem e têm que fazer contraespionagem. O que não posso
fazer é violar a soberania das pessoas. Contraespionagem não é espionagem. Ao
que li, não houve interceptação não autorizada pelo Judiciário, não houve
ofensa à lei”, afirmou Eduardo Cardozo;
Então
fica combinado assim. Ninguém pode espionar o Brasil, mas nosso país pode espionar
os outros países. E isso acontece numa época em que o mundo vive sob vigilância
de um autêntico Big Brother, a partir das câmeras individuais com as quais
milhões de brasileiros, por exemplo, gravam e fotografam instantaneamente e
espalham pela internet o dia a dia de todo mundo. Faz de conta que concordamos
com as palavras de Eduardo Cardozo. Mas também podemos rir à vontade.
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