- Tendo em vista a celeuma causada com o manifesto dos clubes militares contra a nomeação da Comissão da Verdade e de um outro que já tem cerca de mil assinaturas de militares de todas as patentes reagindo à atitude dos comandos das três Forças ameaçando militares da reserva com punições, algo que anda preocupando muita gente, transcrevemos a seguir oportuno artigo do jornalista e escritor Fernando Molica, publicado na edição de hoje do jornal carioca 'O Dia', visto que o mesmo reflete o pensamento deste Blog sobre o polêmico assunto:
De um modo geral, militares da reserva que esbravejam contra o esclarecimento
de crimes cometidos por funcionários do governo durante a ditadura erram — ou
mentem — quando dizem defender a imagem das Forças Armadas. A grande maioria
advoga por si, são pessoas que não querem que seus filhos, netos, bisnetos,
amigos e vizinhos saibam que eles, por ação ou omissão, permitiram a
transformação de quartéis em centros de tortura.
Exército, Marinha e Aeronáutica são instituições essenciais ao País. Estão acima de períodos históricos, dos desvios cometidos por alguns de seus integrantes. Não devem ter sua história atrelada ao sadismo dos que ultrapassaram as barreiras da civilidade. Não podem permitir que seus aposentados tratem os brasileiros como idiotas quando insistem em negar a prática sistemática da tortura, os assassinatos e a existência de desaparecidos.
A teimosia também contribui para a glorificação das organizações armadas de esquerda. Mais do que envolvidos na luta pela redemocratização do País, seus integrantes visavam a implantação do socialismo pela via revolucionária. Ao tentarem brecar a história, setores militares desafiam o poder civil, assumem compromisso com a obscuridade e dificultam a discussão dos objetivos e até mesmo de crimes cometidos pela guerrilha, como nos casos das mortes do soldado Mário Kozell Filho e do capitão americano Charles Chandler.
Membros da esquerda armada não ficaram impunes, foram presos, torturados e condenados. Ao contrário de ex-torturadores e de personagens como o coronel Wilson Machado — aquele, o do Riocentro —, veteranos da guerrilha não costumam se calar sobre atos pretéritos, muitos admitem seus erros. Já o silêncio de militares que participaram da repressão é mais enfático do que a sucessão de manifestos coléricos, revela o constrangimento de admitir o que fizeram.
A Comissão da Verdade representa uma grande oportunidade para as Forças Armadas, que não devem se transformar em cúmplices eternas de crimes cometidos no passado. Admiradas pela maioria do povo brasileiro, sairão mais fortes dessa purgação e desse obrigatório acerto de contas. Não podem ficar reféns das atrocidades cometidas durante um determinado período, isto não seria justo com a história das próprias instituições nem com o futuro dos jovens que sonham se tornar militares. Eles têm o direito de receber fardas e espadas livres de qualquer nódoa.
Exército, Marinha e Aeronáutica são instituições essenciais ao País. Estão acima de períodos históricos, dos desvios cometidos por alguns de seus integrantes. Não devem ter sua história atrelada ao sadismo dos que ultrapassaram as barreiras da civilidade. Não podem permitir que seus aposentados tratem os brasileiros como idiotas quando insistem em negar a prática sistemática da tortura, os assassinatos e a existência de desaparecidos.
A teimosia também contribui para a glorificação das organizações armadas de esquerda. Mais do que envolvidos na luta pela redemocratização do País, seus integrantes visavam a implantação do socialismo pela via revolucionária. Ao tentarem brecar a história, setores militares desafiam o poder civil, assumem compromisso com a obscuridade e dificultam a discussão dos objetivos e até mesmo de crimes cometidos pela guerrilha, como nos casos das mortes do soldado Mário Kozell Filho e do capitão americano Charles Chandler.
Membros da esquerda armada não ficaram impunes, foram presos, torturados e condenados. Ao contrário de ex-torturadores e de personagens como o coronel Wilson Machado — aquele, o do Riocentro —, veteranos da guerrilha não costumam se calar sobre atos pretéritos, muitos admitem seus erros. Já o silêncio de militares que participaram da repressão é mais enfático do que a sucessão de manifestos coléricos, revela o constrangimento de admitir o que fizeram.
A Comissão da Verdade representa uma grande oportunidade para as Forças Armadas, que não devem se transformar em cúmplices eternas de crimes cometidos no passado. Admiradas pela maioria do povo brasileiro, sairão mais fortes dessa purgação e desse obrigatório acerto de contas. Não podem ficar reféns das atrocidades cometidas durante um determinado período, isto não seria justo com a história das próprias instituições nem com o futuro dos jovens que sonham se tornar militares. Eles têm o direito de receber fardas e espadas livres de qualquer nódoa.
Este artigo demonstra diversas dicotomias que seriam trágicas se não fossem engraçadas. Enquanto o autor critica a legítima manifestação dos militares da reserva, afirma que esta teimosia somente dificulta a discussão sobre os crimes da querrilha, que é justamente o motivo das criticas à tal da Comissão da Verdade, que na verdade é a "Comissão da Meia Verdade", porque só vai apurar um lado da história (se apurar o outro lado, muita gente poderosa hoje vai se complicar, diga-se de passagem). Além disto, o argumento de que os "membros da esquerda", ou seja terroristas, já foram "punidos" (?!?!?!) pelos seus atos de assassinatos, sequestros, roubos a bancos, atentados à bomba, entre outros, é, no mínimo, infantil, demonstrando uma tendenciosa visão da realidade (que não cabe a um jornalista, que deveria estar preocupado em apresentar os fatos).
ResponderExcluirFala-se muito que as leis devem ser cumpridas, mas aparentemente quer o autor que apenas as leis que lhe interessam sejam cumpridas... bela forma de ver as coisas. A lei da Anistia não é lei? A lei 7.524´(permite manifestação politica dos militares da reserva) não é lei? Existe ou não, no Brasil, direito de expressão? Estamos numa Democracia ou não?
Quando a coisa aperta (greves, desastres naturais, etc), todo mundo que as forças armadas na rua para ficar sob sua proteção. Quando a situação acalma, uns e outros ficam machões de novo e resolvem desmerecer os membros das forças armadas.
Para finalizar, os militares da reserva são a voz dos militares da ativa, submetidos voluntariamente à hierarquia e a disciplina. Mas é preciso não confundir disciplina com submissão, que é o erro que estou vendo em toda esta situação. Seria trágico se não fosse muito engraçado, pois estamos no Brasil. Só rindo...