- Com o título acima, estou reproduzindo interessante artigo publicado na revista "Época" desta semana, de autoria da jornalista RUTH DE AQUINO. Convém que seja lido, pois tem muito a ver com o momento político que vivemos:
Nós e eles
queremos o bem do povo, o bem do país. Desprezamos quem desqualifica o outro
lado
Nós e eles estamos irremediavelmente ligados por um amor comum. O
destino do país. E o país são as pessoas. Não conheci um eleitor que deseje que
o Brasil afunde nos próximos anos, que a economia naufrague e que a roubalheira
do sanatório geral continue.
Não conheci um eleitor, jovem ou idoso, de classe abc-yz, que torça para
o país sofrer – na educação, na saúde, na segurança, no transporte, na
infraestrutura, no emprego, na inflação, na produtividade, no meio ambiente e
na ética – goleadas humilhantes.
Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio, com sonhos parecidos. Que o Brasil
vença a ignorância e o subdesenvolvimento. Que a inclusão social não signifique
nivelamento por baixo. Que o conhecimento seja valorizado e se erradique o
analfabetismo. Que o combate à desigualdade se qualifique por oportunidade real
de ascensão, e todos tenham direito a saneamento e a moradia digna.
Nós e eles votamos em Aécio ou Dilma para que não se adie mais a
construção maciça de creches em todo o território nacional. Para que se cumpram
as promessas de educação em tempo integral, e as escolas não parem por falta de
professores. Para que se fiscalize a qualidade dos cursos técnicos e os mestres
ganhem dignamente.
Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio para dar um basta às maracutaias de
poderosos. Para que uma reforma política inclua prestação de contas,
transparência e fim da corrupção que enlameou do planalto às planícies e
contaminou uma estatal como a Petrobras. Votamos para moralizar a farra das
castas sindicais, sanear as contas do governo federal e saber se nossos
impostos beneficiarão a população ou continuarão a encher os bolsos dos
corruptos.
Nós e eles votamos em Aécio ou Dilma para que se pare de superfaturar
com propinas as grandes obras de infraestrutura e para que os governos parem de
nos fazer de bobos, de desviar verba pública até de ambulância, de desabrigados
e de merendas escolares. Também votamos para que as obras não sejam paradas no
meio, não se alonguem pelo dobro do prazo previsto e não se transformem em
monumentos à incompetência e à má-fé administrativas.
Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio para que o Brasil tome vergonha na
cara e reduza drasticamente o recorde atual de 56.337 homicídios por ano –
desses, 30.072 são jovens entre 15 e 29 anos! Números de guerra que revelam o
fracasso da política nacional de segurança. Em 100 países, o Brasil está em
sétimo lugar no extermínio de sua própria gente. Nosso país elucida apenas 8%
dos homicídios. Votamos para não ser mais assaltados na rua, na praia, dentro
de casa, na saída do banco, no ônibus, no carro, por gente que não dá valor à
vida e atira na cabeça.
Nós e eles votamos em Aécio ou Dilma para que a população confie na
Polícia Militar, uma instituição lançada ao descrédito por elementos que
executam, achacam, estupram, roubam fuzis e drogas, se aliam a traficantes e
somem com suas vítimas. Os bandidos fardados são uma chaga de nossa sociedade.
Votamos para que o novo governo inclua em suas ideias novas a responsabilidade
federal pela calamidade na segurança e pelo abandono de nossas fronteiras.
Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio para impedir a inflação crescente
de engolir nossos salários e para o país voltar a crescer a uma taxa que nos
permita enfrentar os desafios sociais. Votamos para não ter de protestar de
novo nas ruas contra a indignidade dos transportes públicos que espremem o povo
em trens, ônibus e metrôs ineficientes e precários. Votamos para não ver mais
doentes no chão de hospitais sem maca, sem equipamento, sem remédios e gente
morrendo na fila da cirurgia. Votamos para deixar de assistir ao espetáculo
escabroso de rios mortos, florestas mortas, lagoas em coma, mares agonizando
com lixo e esgoto.
Nós e eles queremos o bem do povo e o bem do país. Por isso, nós e eles
repudiamos qualquer tentativa oficial de censura ou de ditadura à esquerda ou à
direita. Nós e eles achamos terrível quando um governo tenta calar ou manietar
quem revela os malfeitos. Nós e eles somos a favor da liberdade de expressão.
Nós e eles desprezamos quem desqualifica a oposição. Nós e eles
desprezamos uma oposição irresponsável. Nós e eles nos escandalizamos quando um
governo cerceia o direito de ir e vir de oposicionistas. Nós e eles abominamos
mentiras – em fatos e números –, destinadas a manipular nosso pensamento, a
incitar irmãos ao ódio e a estimular a luta de classes que não leva a lugar
algum, nem amanhã nem nunca.
Nós e eles preferimos a esperança, porque o Brasil é nossa terra, nossa
vida.
NA “Tampa", LEITÃO.
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